COLUNAS
COMUNISTAS E FASCISTAS

O grau de intolerância está tomando conta da nossa sociedade de forma vertiginosa. Com a morte do ativista americano Charlie Kirk, alguns saíram para comemorar nas redes sociais. Claro que muitos dos que hoje se revoltam com o assassinato do jovem americano de direita são os mesmos que tripudiaram da morte de Marielle Franco, a vereadora carioca de esquerda.
A hipocrisia, claro, é artigo mais do que abundante nessa mesma sociedade polarizada e cheia de fé. Não são poucos os homens cristãos, cidadãos de bem, que amam suas famílias e que têm como hobby práticas matrimoniais não muito ortodoxas. Fazem apologia às armas de fogo repetindo o mantra “bandido bom é bandido morto”, ainda que contrário aos ensinamentos de Cristo.
Mas muitos desses apologistas são adeptos do Deus do Antigo Testamento, mais duro e menos apegado a essas coisas do amor, misericórdia e perdão. Com Jeová não tem essa de dar a outra face para ser batida. Isso é coisa de Jesus. Também não vejo por parte desses “hipocristãos” quaisquer manifestações de repúdio em relação aos massacres cruéis e diários de crianças em Gaza. A indignação é seletiva.
O crescimento da intolerância é preocupante. As redes sociais se transformaram em terrenos inóspitos e absolutamente ácidos, onde o debate desapareceu. As pessoas vociferam suas próprias verdades, pregando para convertidos, que, protegidas em suas bolhas, meneiam as cabeças umas para as outras. Quem pensa diferente é excluído e tido como leproso bíblico.
Por conta disso os relacionamentos estão cada vez mais restritos. Tenho um amigo que diz estar se tornando ermitão, pois não consegue conviver com certas pessoas, mesmo que de forma virtual. Outro esteve presente numa festa que achou ser de amigos e voltou de lá impressionado com a indiferença da qual foi vítima, uma vez que o consideram “petista”, embora ele jamais tenha se manifestado como tal.
Eu sou chamado de fascista e comunista dia sim, dia não, a depender de quem analisa o que escrevo e comento no rádio toda semana. Uma frase é suficiente para que o interlocutor ou ouvinte tire suas próprias conclusões, quase sempre equivocadas. Certo dia, pelo fato de ter alertado uma pessoa num grupo de WhatsApp do qual faço parte de que o vídeo que ela postou era fake news, fui chamado de “militante de esquerda”.
Os termos “comunista” e “fascista” foram banalizados. Em primeiro lugar, há uma clara dissonância cognitiva de alguns que querem a todo custo acabar com o comunismo no Brasil ou, no mínimo, impedir que ele seja instalado, embora não haja qualquer indício de que isso possa vir a acontecer. Nem na China há esse “perigo”. Uma horda febril de olhos esbugalhados anda por aí pregando contra esse tal comedor de criancinhas em pleno 2025.
A coisa está fora de controle. De igual forma, constatei nas redes que alguns que aplaudiram a morte do ativista americano Charlie Kirk são os mesmos que ficaram abismados com os que haviam comemorado a de Marielle Franco. O escritor e jornalista Eduardo Bueno, conhecido por “Peninha”, fez deboche e cara de ódio ao comentar sobre o assassinato do referido jovem. Logo ele, que costuma apontar o dedo acusador para “fascistas” a cada vídeo que posta.
As redes sociais estão repletas de gente com razão, que assassina a língua portuguesa sem pudor e distribui lições de vida, uma mistura de Bíblia com Mein Kampf. Um dublê de pastor postou algo assim: “Jacó resolveu no soco; Davi, no estilingue; Pedro, na espada; agora que chegou a minha vez dizem que é pecado?”. É assim que estamos. Do jeito que a coisa anda seremos todos mortos a pedradas no meio da rua, como Golias.
Palmas, 28.9.2025
